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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Davi e Jônatas: uma amizade que incomoda

Fomos criados em um mundo de idéias liberais, que, em vez de nos tornarem livres, nos aprisionam cada vez mais em suas concepções e realidades. Numa sociedade permeada por uma erotização desmedida em todas as realidades, principalmente quando se fala em relacionamentos. Não se acredita mais no matrimônio, em um namoro santo, em uma amizade sadia, no amor gratuito e sem interesses sexuais. Pensar em amizades verdadeiras, em um mundo assim, é bater de frente com toda uma concepção maliciosa e deturpada do amor e apresentar a realidade, na qual é possível viver uma amizade sadia.
Alguns dos grandes testemunhos deixados a nós por Davi e Jônatas – príncipe de Israel e pastor de ovelhas respectivamente – são o companheirismo, a fidelidade, a lealdade e o amor puro e manifestado de diversas formas, que pode haver em uma amizade entre dois homens. Uma amizade que incomoda um mundo que praticamente exterminou a idéia de um relacionamento desinteressado e sadio entre homens e mulheres e que agora volta suas armas para as amizades masculinas. São termos, ideologias e opiniões que a todo o momento colocam em dúvida esse tipo de relacionamento ou o transformam em uma caricatura muito distante da verdade que habita no amor verdadeiro entre dois amigos.
O amor entre Davi e Jônatas era puro e concreto. Diz a Palavra de Deus que, ao se despedirem, – para nunca mais se verem – eles se beijaram e choraram (cf. I Sm 20,41b). Mas alguns olhares estragados pelos ideais, que andam por aí, conseguem ler essa passagem e ver sinais de uma relação erótica entre os dois. Minha mãe diz que, muitas vezes, nós vemos só o que queremos ver. O que a Sagrada Escritura testemunha é a liberdade que habita no coração de dois homens, que encontraram em Deus uma amizade verdadeira, os quais, justamente por terem o Senhor como fundamento desse relacionamento, são livres o suficiente para demonstrar o quanto se amam.
As atitudes afetuosas desses personagens bíblicos não são as únicas que encontramos na Palavra de Deus. O Evangelho é permeado de relatos de um Jesus que amava os amigos homens de maneira livre e concreta, cheia de demonstrações públicas de afeto. Quando descreve a alegria do reencontro do pai com o filho, que havia se perdido e consumido todos os bens herdados, o Senhor afirma que o pai corre ao encontro do herdeiro, abraça-o e o cobre de beijos (cf. Lc 15,20). O Filho de Deus não teve vergonha de chorar diante de uma multidão de pessoas no túmulo de se amigo Lázaro, fato que demonstrou a todos de maneira concreta o quanto Ele o amava (cf. Jo 11,35-36). O mesmo Jesus, na Última Ceia, após lavar os pés dos amigos, se coloca em tal liberdade com os apóstolos, que João – o discípulo amado – repousa a cabeça sobre Seu peito (cf. Jo 13,25). São manifestações concretas de quem ama de verdade e por isso não tem medo de demonstrar esse sentimento.
Parece que o mundo fica incomodado com aqueles que vivem as coisas como elas devem ser, de forma pura e sadia, arrumando logo um jeito de distorcer a situação ou levantar dúvidas. É mais fácil para alguns escreverem livros dizendo que era Maria Madalena que estava a lado de Jesus na Última Ceia do que admitir que, na sua castidade plena e livre, Ele tinha reclinado em seu peito o discípulo que mais amava. É mais fácil levantar suspeitas sobre a amizade de Davi e Jônatas do que admitir que um homem verdadeiramente amou um amigo e ao saber de sua morte é capaz de declarar que aquela amizade lhe era mais cara do que o amor das mulheres (cf. II Sm 1,26). É mais fácil criar mentiras do que se decidir viver pela Verdade.
Decidi passar a minha vida lutando pela Verdade, na Verdade e com a Verdade. Viver testemunhando ao mundo que é possível estabelecer relacionamentos sadios com homens e mulheres, sem medo de demonstrar o afeto e o amor, próprios entre os que decidiram viver uma vida nova em Cristo. Uma vida pautada na busca de equilíbrio, mas sem medo de ser um sinal de contradição em meio a uma sociedade que desacreditou o amor verdadeiro.
Deus me deu a graça de ter amigos de verdade. Homens que, com o seu testemunho, me edificam e me levam mais para Ele. Amigos casados, solteiros, pastores, seminaristas, estudantes e pesquisadores, que decidiram seguir o exemplo de Jesus de não ter medo de amar e demonstrar o quanto amam de forma concreta. Homens que, por se cumprimentarem com um abraço, com um gesto de afeto, não deixam de ser homens; pelo contrário, dão ao mundo o testemunho coerente do amor evangélico, o amor capaz de dar a vida (cf. Jo 15,13).
Não podemos ser ingênuos e pensar que é fácil testemunhar com a vida uma amizade verdadeira. Quem quer viver uma vida de santidade precisa estar disposto a sofrer, a não ser compreendido e a experimentar que a decisão pelo Senhor e por amar de forma pura e casta nos amadurece e nos faz homens muito melhores.
Viver assim é um desafio! Você aceita?
Pr. Gilvam Alves de Araújo

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